domingo, 22 de agosto de 2010

A notícia.

Estava ali. Na primeira página do jornal, entre o julgamento que não houve do assassino da jornalista e o debate que nada acrescentou dos candidatos a presidente.

Não era uma notícia grande, nem entrava em detalhes. Uma nota com mais adjetivos do que substantivos, abaixo de uma ilustração ininteligível.

Fiquei pensando no que meu pai acharia disso, ele que viu nascer o rádio de galena e nunca se adaptou aos computadores. Mesmo meus filhos ficariam chocados. Nascidos e criados na era da sociabilidade digital, poderiam estar acostumados com tudo. Mas não, impossível não reagir à pusilânime descoberta.

Sou de um tempo em que as crianças eram produzidas por métodos naturais e postas no mundo em partos dolorosamente felizes. Então, o doce marasmo da infância durava uma eternidade e as brincadeiras de quintal e de rua pareciam um destino eterno e maltrapilho.

Depois, tudo se acelerou covardemente e, agora, parece sempre que o fim está coloridamente próximo.

Mas o que li no jornal me tirou da distraída ansiedade cotidiana e me jogou em perturbadora apatia. Saudade do tempo em que morrer era inevitável, mas ao menos se podia nascer naturalmente.

Um comentário:

Analu disse...

lindo texto! tbm tenho saudades. de um tempo que vivi e de outro que só ouvi falar.