sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

SEMPRE QUIS SER ESCRITOR


Sempre quis ser escritor, apesar de não ter qualquer talento ou vocação para a escrita. Juntar palavras sempre me pareceu uma atividade totalmente inútil, além de cansativa: um verdadeiro desperdício. O rótulo de escritor, entretanto, sempre me fascinou, como a mais sedutora das profissões. Se você é médico, ou caixa de supermercado, é visto pelas pessoas como simples fornecedor de utilidades. Em pleno mercado, pedem ao médico para examinar uma amígdala, mesmo que seja um obstetra. Ou mesmo apalpar imaginária luxação no tornozelo, terreno estranho para o pobre neuro-cirurgião. Já o escritor é celebrado justamente por ser mero fornecedor de ilusões. Mesmo não precisando trabalhar, o escriba, por sua simples presença, alimenta incontáveis fantasias. Mais importante, tal atividade, a despeito de puramente simbólica, o faz desde logo merecedor de todas as gratificações. Nada podendo fazer que possa ser útil ao ser humano, ou mesmo aos animais, resta ao escritor usurpar o papel de senhor da criação. Pode, assim, inseminar com sua presença os congressos e os eventos sociais e, com sua luxúria, suprir as carências dos incautos semelhantes. Meu propósito, portanto, é o de gastar o menor número de horas pensando e a menor quantidade de palavras escrevendo, apenas o suficiente para merecer o almejado qualificativo. Por isso, por ora me dedico à fotografia e a este blog. Os fotógrafos também têm seu charme…

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